MINHA QUARENTENA DE OPINIÃO SOBRE A NECESSIDADE DO DISTANCIAMENTO SOCIAL
MINHA QUARENTENA DE OPINIÃO SOBRE
A NECESSIDADE DO DISTANCIAMENTO SOCIAL
Nelson Gervoni
Como a maioria das pessoas da
Terra, ando muito preocupado com a pandemia do COVID-19 e seus desdobramentos.
E como ocorre nessas ironias da vida, acredito que o distanciamento social, que tanto venho defendendo, seja o
principal causador de tantos pensamentos que me ocorrem. As preocupações têm me
levado — também como a
grande maioria das pessoas — a
manifestar-me nas redes sociais, defendendo minhas posições, geralmente
baseando-me em informações produzidas por organismos como OMS, Ministério da
Saúde e veiculadas pela imprensa convencional, evitando a todo custo as
fakenews.
Mas isso também tem me inquietado,
pois novamente me vejo consumido pela polarização que insiste, desde a eleição
presidencial, em classificar a sociedade brasileira em dois únicos grupos: os de direita e os de esquerda. Essa espécie de maniqueísmo tem custado a muita
gente, inclusive a mim, dissabores, irritações, discussões e até inimizades
virtuais, que é quando somos obrigados, por exemplo, a desfazer amizade numa
rede ou a bloquear alguém ou sair de um grupo de aplicativo de mensagem.
Por estas razões decidi
afastar-me das reflexões e postagens relativas à disputa entre aqueles que
defendem o distanciamento social através
do isolamento horizontal —
como é o meu caso — e os
contrários a esta necessidade, geralmente por negarem os riscos de contaminação
pelo novo coronavírus. Esta será a penúltima vez que tratarei desse
assunto, passando a ocupar, por enquanto, meu tempo e minhas mídias com temas
da educação, psicanálise, psicoterapia, teologia, filosofia etc. e que nos
ajudem a atravessarmos esse período tenebroso de forma mais sadia. Se vier a
falar sobre a COVID-19, o farei numa perspectiva da saúde física ou emocional.
Defendo o distanciamento social
como preconizado pela OMS, praticado pela maioria dos governos de estados
brasileiros e de executivos de nações, como a principal forma de precaução
contra a epidemia que assola a humanidade. Estou pasmo com a forma como certa
parte dos brasileiros lida com a situação, como se nada tivesse acontecendo,
andando pelas ruas sem máscaras, encostados uns nos outros, isso para não falar
das carreatas de automóveis de luxo e motocicletas de alto preço pedindo o fim
da quarentena. Sei que esta medida é prejudicial à economia, que haverá um colapso
financeiro nos estados e cidades, que a quebradeira será assustadora, que já há
milhares de informais passando necessidade e outros milhares de desempregados
da pandemia.
Ao mesmo tempo compreendo caber
ao governo federal medidas econômicas mais efetivas para diminuir os efeitos da
crise, que os míseros 600 reais destinados aos pobres, diferentemente dos 750
bilhões repassados para os bancos privados, a título de liberação de depósitos
compulsórios pelo Banco Central. Um verdadeiro “negócio da China” para os milionários
banqueiros. Pequenas e médias empresas se queixam que esses bancos aumentaram
os juros sob a alegação dos riscos econômicos da pandemia.
Até a Argentina, lutando para
sair de uma crise econômica, há dois anos com os números em vermelho, inflação
recorde e a taxa de pobreza perto dos 40%, adotou medidas econômicas de
minimização dos efeitos da crise causada pela pandemia do coronavírus. O
presidente Alberto Fernández está adiando e reduzindo em até 95% o pagamento
das contribuições patronais para o sistema previdenciário argentino; definiu
que trabalhadores do setor privado receberão abono equivalente a 50% do salário
líquido de fevereiro; concedeu crédito a taxa zero aos trabalhadores autônomos;
anunciou uma ajuda de 10 mil pesos (cerca de R$ 800) às famílias que ficaram
sem rendimento devido à pandemia. Boa parte dessas medidas poderá ser estendida
até 30 de junho se necessário. Diante da pandemia do novo coronavírus, o país
vizinho vem adotando uma quarentena muito mais restritiva, com menos casos de
contágio e de mortes e, como consequência, o governo argentino tem grande
aprovação.
Estou certo de que o
comportamento dessa parte da população que age à revelia dos riscos de morte
que corremos é resultado da postura do presidente Bolsonaro, mais preocupado
com as ameaças que acredita correr sua eventual reeleição, que com o número de óbitos
que aumenta exponencialmente a cada dia. Assim, só voltarei a falar sobre isso,
se Deus permitir, após um mês, fazendo as comparações entre os números de ontem
(19/04) e os números de 19 de maio. Se até lá as quantidades de brasileiros
infectados e mortos tiverem diminuído, assim como caído a taxa de letalidade,
concluirei que estavam certos os 18% de brasileiros avaliam que acabar com o
isolamento é o mais importante a fim de estimular a economia e impedir o
desemprego. Torço para que essa minoria esteja certa e ao fim da minha
quarentena de opinião reconhecerei publicamente que estavam no rumo certo com
suas propostas.
Entretanto, se isso não ocorrer,
confirmarei minha tese de que certos mesmo estão os 76% que avaliam que no
momento é mais importante que as pessoas fiquem em casa a fim de evitar a propagação
do coronavírus, mesmo que isso prejudique a economia e cause desemprego, do que
acabar com o isolamento e morrer outros milhares de brasileiros.
Concluindo, lembro que ontem (19),
segundo dados do Ministério da Saúde, o Brasil chegou a 38.654 infectados pelo
coronavírus, com 2.462 falecimentos e uma letalidade de 6,4%. Pelos dados do
IBGE a taxa de desemprego no país subiu para 11,6% no trimestre encerrado em
fevereiro, atingindo 12,3 milhões de pessoas. O aumento, na comparação com o
trimestre terminado em novembro (11,2%) interrompeu dois trimestres seguidos de
quedas estatisticamente significativas no desemprego.